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Consultoria & Marketing

A filosofia do camelo

A filosofia do camelo

Muitas piadas envolvem camelos. O animal é um ruminante com duas corcovas no dorso, cuja companheira pode ser chamada de camelo fêmea ou simplesmente camela. Seu parente próximo, o dromedário, é uma espécie de camelo de uma só corcova. Não vamos fazer piada com este aliado dos povos do deserto; seria desrespeitoso e também um ato deplorável. Vou, apenas, me espelhar em alguns dos seus atributos para treinar pessoas. Vocês já devem ter percebido que esta mensagem está no sentido figurado. A primeira qualidade do camelo é a sua utilidade, carrega uma carga considerável (mesmo não sendo burro), animal forte, resistente, consegue ficar mais de uma semana sem beber água, muito embora consiga beber 100 litros em 10 minutos. O mundo animal nos fornece experiências magníficas que podem perfeitamente ser aplicadas no mundo dos humanos, sobretudo na área de trabalho. Os bichos são safos.

O camelo encara o trabalho com muita seriedade, tanto que não pára para comer quando está trabalhando, ele conduz as suas atividades até o final. Descansa sob as ordens do beduíno. Ele, o camelo, tem a capacidade de ruminar o tempo todo, mastiga, mastiga de novo, os alimentos que voltam do estômago à boca, para ruminação do árabe do deserto. É um mamífero herbívoro de estômago dividido em quatro partes como as vacas, carneiros, girafas e outros similares. O camelo tem a habilidade de intercambiar os compartimentos estomacais, jogando as ervas ou os vegetais de uma parte para outra como se joga xadrez. Como o camelo não rumina areia terá a oportunidade de comer em pequenos oásis no meio do deserto, onde encontra o verde e água para repor o nível da caixa. Agora entendo porque a natureza o fez resistente.

Sem jogar xadrez, conheci um funcionário de uma indústria alimentícia que adotara a filosofia do camelo. Ele não almoçava, dificilmente levantava a bunda da cadeira para beber água (e se não bebia não precisava ir constantemente ao banheiro), limitava-se a tomar vários cafezinhos com torradas amolecidas trazidas pela copeira do 3º andar. Qual o motivo disso? Porque ele achava que era um camelo, perdão, um cara insubstituível. Aquele colaborador meteu na cabeça que trabalhando sem parar daria conta do recado de maneira exemplar, seria elogiado pela chefia, forte candidato à promoção na empresa. “Olha como o Manezinho é dedicado, esforçado, comprometido com os resultados!”. Pra que descanso? Na visão do Manezinho, o intervalo para almoço só o fazia perder tempo precioso, atrasaria os trabalhos, uma hora, uma hora e meia que se perdia diariamente, mesmo que um período de parada obrigatória, certamente lhe renderia prejuízos incalculáveis. Esse é o retrato falado de um funcionário que se intitulou escravo, um burro de carga, ou como queira, um camelo. Provável que também levasse trabalho pra casa, ficaria trancado num quarto qualquer, pediria silêncio e não daria atenção à família. Tolo.

As empresas dispensam esse tipo de colaborador. Nas atuais estruturas organizacionais não há espaço reservado para tal perfil de trabalho. Funcionário como ele mais atrapalha do que ajuda, até porque, inevitável e inconscientemente, comparará o desempenho dos colegas ao seu. Um ponto para reflexão: Por que a chefia não percebeu o seu comportamento inadequado a tempo de tentar corrigi-lo? Preocupa-me o fato. Talvez o seu chefe tivesse adotado a filosofia da vaca (outro tema para futura escrita), um mal necessário que deveria ser mantido na equipe; trabalha, trabalha, trabalha, e não reclama. E a eficiência, e a eficácia, como ficam? Em algum momento o trabalho passa a não mais render com a qualidade esperada. Lembrem, quantidade não é qualidade – aquele funcionário poderia estar fazendo certo as coisas, mas não as coisas certas.

Quando estava (prefiro estar a ser), Assessor de Marketing da Skol, lá pelo início da década de 80, dentro da curiosidade controlada que me era peculiar, observava algumas atitudes do meu Coordenador (Status de Diretor). Uma delas: Ao término do expediente, estivesse ele ou não no meio da escrita de uma palavra, ele largava a caneta sobre o papel, pegava a sua mochila de grife, colocava nas costas, despedia-se com um majestoso “boa-tarde”, e ia embora sem olhar pra trás. Compromisso com alguma outra coisa? Não sei. Só sei que dava-nos o exemplo, e seguíamos. A partir daí nunca mais cheguei atrasado à faculdade. O trabalho, no dia seguinte, rendia que era uma maravilha. A parada para o almoço num restaurante italiano uma exigência. Ah, já ia me esquecendo, ele era holandês. Brasileiro ficaria depois do expediente, fingindo trabalhar, para “cantar” a secretária do presidente da empresa. O holandês, Wilhelm Bakum, me confessou que nunca ouviu falar nesse tal de camelo, conhecê-lo, muito menos!

Frase do dia:

“Quem trabalha muito não tem tempo de ganhar dinheiro”.

Augusto Avlis

Sobre augustoavlis

Augusto Avlis nasceu no Rio de Janeiro na metade do século XX. Essa capital foi antes o Distrito Federal e o Estado da Guanabara. Profissionalizou-se em Marketing Operacional e fez parte, como Executivo, de multinacionais do segmento alimentício por mais de três décadas, além de Consultor de empresas. Formado em Comunicação Social, habilitou-se em Jornalismo. Ocupou cargo público como Secretário de Comunicação. Hoje dedica-se às atividades de escritor e cronista.

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