Estou de volta
Duzentos e vinte e dois dias. Esse é o tempo que fiquei “ausente”, digamos, fora do ar. Afastei-me temporariamente, muito embora os 222 dias deem a impressão de um “Adeus” definitivo. Jamais abandonaria o meu Blog (último artigo publicado foi em 30/06/2017, de título “Brasil inconsertável – 19ª parte”) e, sobretudo, os meus leitores – agora não saberia precisar quantos, tampouco os seguidores fiéis, que provavelmente continuam.
Estou de volta. Senti a necessidade de dar um tempo para mim mesmo – sair do lugar comum, mudar de ares, olhares e mares. Foi bom em todos os aspectos. Dediquei-me à realização de um projeto que consegui tirá-lo da gaveta – lá estava há alguns anos; também não precisos. Um romance não terminado, que terá a sua escrita finalizada noutro momento de fuga. Acredito breve, talvez o último ato de um cara que jamais perderá a esperança.
Parece a volta de um sonho sonhado, acontecido em lugar estranho e distante. O difícil foi acordar e deparar com uma realidade que se mostra imutável, que, absolutamente, não está sujeita a mudar, ainda que provocada por forças mutáveis.
Política, religião, economia, reformas estruturais do país, televisão, imprensa, cultura, gente, saúde, educação, segurança pública, desigualdades sociais, Lava-jato, enfim, um emaranhado de informações conexas, aos borbotões, por vezes incoerentes e sensacionalistas, que dão o contorno das imagens diárias, semanais e atemporais. Vento que vem, e que vai, refrescando imaginações. Esta é a realidade com a qual dou de cara. Mesmice agravada, nada mais. Somos a própria notícia absurda, despojada, literal – redemoinho de palavras vazias.
O nosso povo, que poderia ser outro, continua no mais profundo estado de inconsciência. Uma sociedade adormecida, letárgica, que não consegue reagir aos desmandos de governos. Não há sentimento patriótico quando a consentida preguiça mostra a real dimensão do desânimo. Filhos órfãos da vergonha na cara, povo pouco ou nada heróico, aguardando às margens plácidas do rio Ipiranga que o barco afunde completamente. É o que somos – de certo a maioria –, acometidos de perturbações encefálicas. A persistir o estado de coisas chegaremos ao coma de grau IV – muito brasileiro preferirá chamá-lo de “coma dépassé” por ser mais charmoso. O espírito de brasilidade adernou com mastro e bandeira. A recuperação é quase impossível, a depender de métodos agressivos.
Estou de volta. Senti a necessidade de dar um tempo para mim mesmo – sair do lugar comum, mudar de ares, olhares e mares. Foi bom em todos os aspectos. Dediquei-me à realização de um projeto que consegui tirá-lo da gaveta – lá estava há alguns anos; também não precisos. Um romance não terminado, que terá a sua escrita finalizada noutro momento de fuga. Acredito breve, talvez o último ato de um cara que jamais perderá a esperança. Parece a volta de um sonho sonhado, acontecido em lugar estranho e distante. O difícil foi acordar e deparar com uma realidade que se mostra imutável, que, absolutamente, não está sujeita a mudar, ainda que provocada por forças mutáveis. Penso que seria melhor não ter voltado.
Esta lembrança ficou pra trás; agora, com os olhos bem abertos, tenho terríveis pesadelos. O “Brasil paralelo” no qual vivemos está sendo comandado pelas organizações criminosas – as chamadas ORCRIMs –, dos mais variados matizes, de cima pra baixo, e pelas poderosas milícias urbanas, que tentam igualmente se organizar com a ajuda indireta do Estado ausente, basta olhar para a situação que se encontra o meu Rio de Janeiro, que deixei para os outros, para uma geração perdida. Está ficando cada vez mais difícil mudar de ares, olhares e mares.
Augusto Avlis
Que bom estar de volta! Estava mesmo sentindo falta dos seus artigos. Navegar é preciso!