25ª Crônica
Reflexões na sentina
Na privada, infalivelmente, todo preguiçoso faz força e todo valente se caga – diz a sabedoria popular. Sabichões e sabichonas têm conhecimento que o vaso sanitário é a peça mais importante do GPL (Gabinete Português de Leitura) ou do banheiro, como queiram. O vaso sanitário não é qualquer objeto côncavo para conter sólidos ou líquidos – ou nele serem depositados, à revelia, tais “corpos consistentes” e os “fluidos acompanhantes”. Este receptáculo feito de louça, ou de loiça, pode perfeitamente ser comparado ao divã de psicanalista.
Devidamente acomodado nele, o produtor assíduo de dejetos traz ao consciente os sentimentos latentes do inconsciente. Nesta solitária investigação psicológica, este comum peregrino se entrega de corpo e alma à “psicodescompressão” de tudo que é relativo à sociedade e, a partir daí, dá início ao processo de lucubração. Na verdade, esta cogitação profunda está mais pra masturbação mental do que pra outra coisa – remói pensamentos; xinga a sua própria sombra; amaldiçoa o cunhado; sonha com o funeral da sogra; imagina uma herança impossível; lembra da última pulada de cerca; sofre porque o prêmio da loteria somente sai para os outros; enfim, acha que a globalização apenas trará benefícios para os capitalistas, etc, etc. A política é jogada fora com os dejetos.
O mais importante é ir ao banheiro sem levar o jornal e sentar no vaso com um pouquinho de prisão de ventre – enquanto a pessoa se concentra para defecar, as ideias vão fluindo naturalmente. Convidar alguém pra ficar do lado de fora, anotando num caderninho, os pensamentos filosóficos ditados, é fundamental para o alívio da mente e do intestino – dentro dele, com certeza, esse alguém não suportaria.
Mais do que uma necessidade, o indivíduo tem o direito de ficar sozinho e o “WC” é o lugar ideal – bastam apenas trinta minutos no seu interior para que se realizem sessenta “ejaculações precoces”.
Ah! Já ia me esquecendo de duas coisinhas básicas: ver se tem água na descarga e conferir se o papel higiênico é suficiente.
Ejaculações precoces
- O Brasil é o país do futuro – que nunca chega.
- A política brasileira é uma grande pocilga onde entram os porcos magros e saem os porcos gordos – quando querem.
- No final do túnel – tem sempre o começo de outro.
- Cobra que não anda – também não corre.
- Água mole em pedra dura, tanto bate – até que molha tudo.
- Bala trocada não dói – desde que não acerte.
- Não desejai a mulher do próximo – perto da sua mulher.
- Não existe ex-corno e nem ex-veado – a qualquer momento pode haver uma recaída de ambos ou por parte de quem os nomeou por sentença.
- Dê o outro lado da face pra bater – somente àqueles que não têm mãos.
- Deus ajuda – a quem sabe pedir.
- Em terra de cego – tem muita tropeçada.
- O mal do sabido – é a ignorância dele.
- O trabalho enobrece – perdão, cansa.
- Não estimule o seu filho a trabalhar em demasia – porque pode se tornar um hábito.
- Quem empresta aos pobres – continuará emprestando.
- Quem dá o que tem – não tem problema.
- Mulher de amigo meu – é sempre mais gostosa do que a minha – até comê-la.
- A esperança – é a última esperança.
- A derradeira verdade da vida é a morte – dizem os mortos.
- Pense primeiro nos outros antes de pensar em si próprio – sobretudo quando os outros podem lhe dar alguma coisa.
- Quem se junta aos porcos – sente um fedor danado.
- Em casa de ferreiro – só leva ferro quem for lá.
- O pior cego é aquele – que pensa que é. Cego? Não, pior.
- A beleza está nos olhos – fechados.
- Quem ama o feio – é burro.
- Depois da tempestade – vem mais tempestade.
- Os últimos serão sempre – os últimos; se não forem mais rápidos.
- A pressa é inimiga – da moleza.
- Diga-me com quem andas – que quero andar junto.
- Há pessoas que têm a necessidade de demonstrar status – mesmo que com o dinheiro dos outros.
- Coruja que não gaba o toco – pau nela.
- Na portaria eletrônica, o visitante ao solicitar a abertura da porta pergunta: “Abriu?”. A empregada responde: “Não, estamos em maio!”.
- O avião e o poder têm uma forte relação entre si: quanto mais alto se está, menos se enxerga quem está embaixo.
- Quando a intolerância tem nos semelhantes a sua razão é uma situação, não obstante, quando o próprio eu passa a ser o autor dela, a coisa muda de figura – na ótica dos semelhantes.
- Duas palavrinhas mágicas que abrem todas as portas: “Puxe” e “Empurre”.
- Não vou ficar a vida toda batendo bife pros outros fritarem – também não vou passar a vida toda fritando pros outros comerem.
- O cúmulo do ciúme: “Marido mata homem que não tirava os olhos da sua mulher – a vítima era cega”.
- Exemplo de crueldade: “Saddam Hussein mandou furar os olhos de um dos seus generais porque este se negou a arrancar os olhos de um prisioneiro americano antes de matá-lo com um tiro nos miolos”.
- Do gerente de um banco para um correntista: “Aqui você está entre amigos”. Do boy que estava servindo o cafezinho: “Coitado, tá fodido – vai perder até as calças”.
- Acreditar em promessa de político é a mesma coisa que acreditar em perdão de sogra.
- A maior mentira do mundo: “O dinheiro não traz felicidade”.
- A maior verdade do mundo: “O dinheiro só traz infelicidade quando pagamos juros dos cartões de crédito e dos empréstimos bancários”.
- O cúmulo do narcisismo: “Um amigo quando se olhava no espelho sentia vontade de manter relação sexual consigo mesmo!”.
- De uma mulher para uma amiga: “Vou arranjar um cara rico e a gente se arruma logo – você vai ver!”. De um homem para um amigo: “A gente come a mulher dos outros, não pela mulher propriamente dita, mas sim pelo prazer de sacanear o outro cara. Se elas pedirem dinheiro, mando pedir aos maridos – só que pra dois”.
- Corno resmungando: “As mulheres são mesmo umas vacas. Toda mulher um dia pensou em ser prostituta, inclusive a minha – umas quiseram e conseguiram ser”.
- Se você não faz questão de guardar um segredo, então, conte-o para uma mulher.
- Todo homem tem um melhor amigo. Todo melhor amigo também tem um melhor amigo – de repente, pode não ser você.
- Um dramaturgo me disse: “O dinheiro compra tudo – até o amor verdadeiro”.
- Minha mulher: “Meu bem, por que você não aumenta a oferta e me compra por inteira?”.
- Minha resposta: “Querida, eu não costumo comprar amor. Eu permuto amor – dou e recebo. Além disso, acabei de defender a tese do escambo, que trata da troca das sobras”.
- Dois homens do povo conversando: “Pois é, João, o nosso presidente só tem nove dedos nas mãos”. “É mesmo, Severino, ainda bem que ele não pegou a mania de roubar como os outros políticos, porque seria um desastre. Toda pessoa que tem nove dedos nas mãos não consegue carregar tudo o que pega”.
- Três atitudes denunciam o cara que nunca vai ser seu amigo, ou vai deixar de ser: primeira, quando ele se despede de você, pessoalmente, diz “um abraço” e não o abraça; segunda, convida você pra jantar na casa dele e seis meses depois você descobre que ele mudou de endereço; terceira, quando você pede um favor, ele pede pra você telefonar tal dia, troca o número do telefone e não lhe informa.
- Gato em cima do muro – só fica lá quando tem cachorro embaixo.
- Gato escaldado – morre sem pêlos.
- Todo político diz que o seu orçamento é um cobertor pequeno demais – só dá pra aquecer as suas mãos.
- A maior prova de incompetência: quando um suicida em potencial fracassa na primeira tentativa.
- Não confunda: “Pato ao tucupi” com “taco o pico no cu do pato”.
- Não confunda cu com outro cu.
- Por que pão de pobre sempre cai no chão com a manteiga voltada pra baixo? Porque tinha manteiga.
- Exemplo de imoralidade: Em primeiro lugar, como nunca vi banqueiro sentar no banco dos réus, tampouco ir pra cadeia por roubo declarado, não vou revelar o nome do agente financeiro envolvido nessa história, porque tenho furingo e, sobretudo, medo de morrer. Um amigo me contou que recebeu um boleto bancário relativo à cobrança do cartão de crédito com a seguinte proposta: “Grande oportunidade. Salde o valor atual da sua dívida, no montante de R$ 21.662,08, com desconto especial e retire seu nome da SERASA e do SPC. Reservamos para você condições excepcionais de pagamento (à vista, valor a pagar R$ 1.083,10). Não perca esta grande oportunidade de pagar sua dívida com a UNI-UNI”. Puta que o pariu, quase acabei falando o nome do bendito agente financeiro. Deixa-me fugir porque ele pode deduzir e mandar um capanga armado – defensor de ladrões – vir me cobrar os juros exorbitantes e obscenos de R$ 20.578,98. Esses bancos, agiotas legalizados, são inimigos mortais de todo mundo que paga imposto.
- Se um dia eu me tornar político, prometo que serei defensor dos frascos e dos comprimidos!
Ao se limpar devagar, a pessoa ainda tem tempo pra mais uma ejaculação precoce – antes sessenta e uma do que sessenta e nove.
Augusto Avlis
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Pingback: Um cavalo chamado “Heury” « Opinião sem Fronteiras - 31/10/2012