Às portas do Inferno
A apenas dois dias do fim do recesso do Judiciário a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, homologou, na manhã de hoje, 30/01, as delações premiadas dos 77 executivos e ex-executivos da construtora Odebrecht, mas manteve o seu sigilo.
Depois de muito trabalhar neste final de semana, Cármen Lúcia resolveu tomar essa decisão levando em conta a sua condição de plantonista do STF, portanto, não precisava aguardar a nomeação do ministro relator da Lava-Jato no Supremo, substituto de Teori Zavascki, morto em acidente aéreo em Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro, na tarde da quinta-feira, 19 de janeiro deste ano – 11 dias faz.
Todo o material contendo mais de oitocentos depoimentos será enviado para a Procuradoria-Geral da República e lá receberá um tratamento de choque pelos Procuradores, ou seja, sem a aplicação de anestesia. Os depoimentos passarão por um filtro de malha fina e dele sairão os pontos importantes para abertura de investigações. Os apontados que tiverem foro privilegiado serão privilegiados pelo envio dos processos para o STF (que deixará prescrever algumas ações), e quem não gozar deste foro será investigado pelos juízos de 1ª Instância, a depender das regiões onde os crimes foram cometidos, porém, a maioria ficará com o juiz Sérgio Moro.
Todas as atenções estarão voltadas para o dia 01 de fevereiro, quarta-feira próxima, quando o Supremo retornará às atividades, com o início do ano judiciário de 2017. Até sexta-feira já teremos conhecido o novo relator da Lava-Jato, cujo iluminado sairá de um sorteio promovido na Suprema Corte. Só espero que o ministro Ricardo Lewandowski, ou Dias Toffoli, não seja o sorteado, ainda que estejam na segunda turma, onde correm os processos da Lava-Jato no âmbito do STF. Não são nomes recomendados em função das trapalhadas que fizeram no julgamento da Ação Penal 470 (Mensalão), além do mais, a meu olhar e sentir, ambos não gozam de reputação ilibada.
Na medida em que a PGR avançar no “dessecamento” dos depoimentos dos 77 executivos da Odebrecht, a quebra do sigilo acontecerá normalmente – isso é inevitável, sob pena de ocorrerem vazamentos de informações para a imprensa e para a sociedade, que aguardam com ansiedade a revelação dos fatos, e, sobretudo, dos nomes de todos os envolvidos no maior dos escândalos de corrupção que o Brasil já presenciou.
A essa altura do fortalecimento das investigações, boa quantidade de políticos ratos (ou ratos políticos) está construindo novas tocas, seus cúmplices tentando acompanhá-los nessa tarefa, e novos assassinatos de autoridades da Justiça sendo programados pela máfia que comanda a corrupção no Brasil (ainda solta), como forma mais viável de se fechar as portas do Inferno, que já se encontram abertas para recebê-los com todo o calor das profundezas.
Augusto Avlis
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