Platini foi um dos maiores futebolistas da França, mas o objetivo aqui não é falar do seu vasto currículo – até porque Michel Platini dispensa comentários nessa questão. O momento é para relembrar o que ele falou aos brasileiros há três meses, assumindo o papel de porta-voz da FIFA, entidade preocupada com o que poderia acontecer durante a Copa do Mundo de 2014, caso as manifestações populares tomassem conta das ruas por todo o Brasil, a exemplo do que ocorreu durante o período de realização da Copa das Confederações de 2013, quando os protestos antigoverno e contra a realização da Copa do Mundo no Brasil quase inviabilizaram aquele evento. Com a sua cara de padeiro francês, Platini pediu aos brasileiros que deixassem os protestos para depois da Copa do Mundo, ou seja, que a partir do dia 14 de julho – um dia depois da Final no Maracanã – os românticos manifestantes estariam liberados para trocar a fantasia e entrar no bloco da arruaça.
“Os brasileiros realmente precisam ser avisados de que eles têm a Copa do Mundo, que eles estão lá para mostrar a beleza de seu país, o amor deles pelo futebol e se eles podem esperar um mês, antes de ter qualquer manifestação social, o que seria bom para o Brasil e para o mundo do futebol. Mas isso não está em nossas mãos”.
Michel François Platini – abril de 2014.
Passada a Copa do Mundo, algumas informações guardadas no Hard Disk instalado no nosso neurocrânio são projetadas no monitor – foi o caso da declaração de Platini. Fez sentido a preocupação dos dirigentes da FIFA, sobretudo porque eles não entendiam, como ainda não entendem, de que maneira funciona a cabeça do cidadão brasileiro. Para entendê-lo, o cidadão, não precisa de muito esforço, basta conviver com ele por algum tempo. Os brasileiros não precisam ser avisados de coisa alguma, de modo que só aquilo que lhes interessa terá prioridade; a beleza está nos olhos de quem a vê, por isso, os brasileiros deixam os turistas e qualquer um à vontade; sem dúvida os brasileiros amam o futebol, esquecem tudo, sofrem pelos seus times, não caem na real como o corno que não acredita na traição da mulher; saber esperar é com os brasileiros, que defendem a máxima “a pressa é inimiga da perfeição”. Agora, se não houve manifestação social após o vexame da Seleção brasileira, que amargou um 4º lugar e tomou 10 gols nos dois últimos jogos (7 da Alemanha e 3 da Holanda), isso é ruim para o mundo do futebol e péssimo para o Brasil. Fez sentido a preocupação dos dirigentes da FIFA, mas um pouco exagerada para os nossos padrões culturais. O mundo precisa aprender que os brasileiros não estão nem aí pra “Hora do Brasil”. O 1° turno das eleições ocorrerá no dia 5 de outubro próximo, daqui a 67 dias, pouco tempo para mobilizações sociais e para fazer qualquer coisa que represente real mudança. O grito de “Não vai ter Copa” foi abafado pelo rolar da bola – o “ópio sentimental”, portanto, o futebol move os sentimentos e, sobretudo, os transforma.
Augusto Avlis
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