“Assim como o nu é a coisa mais sublime em toda a arte, deve ser mais sublime na dança, porque dançar é o ritual religioso da beleza física”.
Isadora Duncan
A inspiração como influxo artístico-espiritual. A leveza propiciando movimentos delicados, tênues. A sensualidade exorbita e excita os prazeres dos sentidos. A dança, na sua mais forte e representativa pujança, onde a sucessão rítmica de passos, os saltos, as deslocações corporais, ao compasso musical, tornam-se maravilhosamente belos quando o corpo está totalmente revelado, a descoberto. O nu como recurso de desempenho, a arte cênica revelando-se impar, indivisível. Na plenitude da entrega nos envolvemos, exploramos as possibilidades e temos a oportunidade de conhecer outros mundos no real imaginário. Somos o retrato da criação, imagem refletida na “dança nua” divinamente retocada.
A suavidade de que é revestido o corpo desnudo, na dança, tem singular significado. Mistérios não revelados, segredos guardados, atraentes expressões. Em cada gesto coordenado a natureza humana se manifestando livremente, sem rebuços, sem scripts, sem complexos de culpa. As técnicas aprendidas reverenciam o improviso, o corpo domina o instinto, o incorpóreo prova existência. Os olhos daqueles que assistem pintam majestosos quadros, enquanto a modelo dançarina se engrandece com a autoestima.
“Isadora Duncan foi uma das principais promotoras do nu na dança, bailando em numerosas ocasiões seminua ou com finas telas transparentes, como se podia constatar nos copos e nas cerâmicas da Grécia Antiga, com a pretensão de romper com o academismo e a rigidez do balé clássico. Desde então a nudez na dança contemporânea oscilou segundo a época, aparecendo à época de liberdade e aberturista social, e retraindo-se em períodos de moral mais puritana. Em tempos modernos o corpo nu foi usado por coreógrafos como Jan Fabre, Daniel Léveillé, Maureen Fleming, Lia Rodríguez, Alban Richard, Eléonore Didier, Kataline Patkaï e Anna Ventura”.
O nu na dança é a mais imaculada forma de exposição corporal, não simplesmente uma questão de escolha estética com finalidades dissonantes. A sensação de sentir a pele cortando o vento, desenhando o espaço, contornando a forma, viajando ao universo irrestrito, nada é comparável, e quando tentamos estabelecer paralelos, induzidos ao erro somos. Tabus sociais caem literalmente por terra, as vulnerabilidades identificadas desfazem-se aos poucos no tempo, a naturalidade estampilha a autenticidade. Ritmos que impressionam, suor que escorre, cansaço que repousa, triunfo da vida.
Augusto Avlis
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Pingback: O Naturismo na Dança » Os Naturistas - 16/11/2015