Os loucos – A cabeça e as orelhas
Zé – E aí cara?
Mané – E aí o quê?
Zé – Sei lá, mas podemos conversar.
Mané – Até que tenho um tempinho.
Zé – Eu também.
Mané – Você acha que a cabeça separa as orelhas?
Zé – Você não está conversando, está fazendo uma pergunta.
Mané – É.
Zé – O Jô Soares falou que as orelhas já nascem adultas.
Mané – Não tinha notado isso.
Zé – Nem eu, só depois que o Jô falou no seu programa.
Mané – É mesmo?
Zé – É. Corri pra frente do espelho e fiquei me olhando, me observando atentamente. Cheguei a pegar uma régua escolar, dessas que têm 30 centímetros, para medir o tamanho delas.
Mané – Como assim?
Zé – Como assim o quê?
Mané – Você mediu as orelhas de baixo até em cima, de cima para baixo, do lado esquerdo para o direito ou do lado direito para o esquerdo?
Zé – Boa pergunta.
Mané – Obrigado, mas não me enrola, tá?
Zé – Tá.
Mané – Então me diga.
Zé – Eu comecei a medir primeiro o tamanho da orelha esquerda, de cima pra baixo, e vi que não ia dar certo.
Mané – Por que você não tentou de baixo para cima?
Zé – Eu também fiz isso e cheguei à mesma conclusão.
Mané – Tá.
Zé – Tá o quê?
Mané – Havia alternativa, medir de lado a lado, na horizontal, de bombordo a estibordo.
Zé – Não quis perder mais tempo.
Mané – Como assim?
Zé – Como assim o quê?
Mané – Não sei, mas não me enrola de novo.
Zé – Tá. Deparei-me com outro problema.
Mané – Qual?
Zé – Os números que estavam na régua uma vez vistos no espelho me davam tamanhos fora da realidade.
Mané – Sei.
Zé – Sei o quê?
Mané – É fácil de entender. Uma vez fui ao barbeiro cortar o cabelo e lá tinha um relógio na parede atrás da cadeira onde eu estava sentado cortando o cabelo. Dei uma olhada no relógio e os números estavam ao contrário da minha visão o que me fez entender que o registro do tempo estava maluco quando olhado pelo espelho.
Zé – É. E daí?
Mané – E daí eu pedi ao barbeiro, de nome Belmiro, que invertesse a posição dos números daquele relógio para que as horas, observadas pelo espelho, fossem vistas da mesma maneira que se a pessoa estivesse cara a cara com o relógio olhando diretamente para os números e para os ponteiros.
Zé – É verdade cara!
Mané – É.
Zé – Eu tenho um caso parecido.
Mané – Então conte.
Zé – Estava viajando com o meu pai. Eu sempre tenho o costume de ficar olhando pra trás, como os bandidos fugitivos fazem nos filmes americanos. Foi aí que tentei ler uma palavra: AICNÂLUBMA.
Mané – Que porra de palavra é essa cara?
Zé – Eu pensei que era uma palavra dita por algum povo do espaço. Perguntei ao meu pobre pai o que significava AICNÂLUBMA e ele me mandou à merda. Talvez pelo fato de não ter encontrado a pronúncia certa para fazê-lo entender direito. Minha mãe me deu um pouco de água que ela sempre levava numa suja garrafa de plástico porque a minha boca estava seca e a língua enrolada.
Mané – E daí cara?
Zé – E daí que o meu pobre e cansado pai me pediu para que eu virasse de frente, deixasse de olhar pra trás e solicitou educadamente que olhasse no retrovisor interno do carro e lê-se em voz alta a palavra AICNÂLUBMA.
Mané – E daí cara?
Zé – E daí que ela tinha misteriosamente sumido e no lugar dela estava AMBULÂNCIA.
Mané – Procede.
Zé – Voltemos ao programa do Jô.
Mané – Tá.
Zé – Além do Jô ter concordado que a cabeça separa as orelhas e que as orelhas já nascem adultas ele mostrou fotos de crianças orelhudas provando a sua teoria.
Mané – Não diga!
Zé – Digo sim.
Mané – Então o bebê já nasce com as orelhas do tamanho das orelhas de uma pessoa com 60 anos?
Zé – É.
Mané – Explique melhor esse “É” porque não entendi direito.
Zé – As orelhas uma vez nascidas na cabeça do bebê elas não crescem mais.
Mané – Agora entendi. O que cresce é a cabeça.
Zé – Depende.
Mané – Depende o quê?
Zé – Tem cabeça que já nasce grande, dificultando o parto.
Mané – É. Podemos dizer que é uma criança perfeita, quase pronta para a vida. Já nasce com as orelhas grandes e a cabeça também grande na mesma proporção. Fica mais bonito assim.
Zé – Político tem cabeça grande?
Mané – Sei lá.
Zé – Vamos à Brasília conferir?
Mané – Não.
Zé – Por quê?
Mané – Lá em Brasília tem muito político com a cabeça quebrada com essa história da CPI do Cachoeira. Sem contar que tem um boneco de engonço cabeçudo e orelhudo assombrando o Palácio da Alvorada.
Zé – E daí?
Mané – E daí que a merda tá exposta e nem o Supremo Tribunal Federal está aguentando o mau cheiro.
Zé – É. Eu também tenho medo de fantasma.
Mané – Acho melhor ficarmos por aqui mesmo assistindo ao programa do Jô. Tem sempre algo novo.
Augusto Avlis
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