Em um reinado distante, além da linha do horizonte perceptível, pela morte do seu pai, o rei, um pequeno príncipe assume o trono. Imediatamente depois de colocar a coroa na cabeça, o novo rei deu a primeira ordem ao chefe da guarda:
– Que, em meu nome, mande matar de uma só vez 100 súditos, e que seja logo, na presença de todos.
Perplexo, ao ouvir aquela ordem, o Bobo da Corte se pronunciou:
– Amado rei, por que matar os 100 súditos se eles nada devem, até pagam em dia os tributos?
O novo rei, mantendo-se firme no seu propósito, confirmou a ordem dada ao chefe da guarda, acrescentando:
– Chefe da guarda, comece a executar a minha ordem, matando primeiro o Bobo da Corte, sem piedade.
Apavorado, o Bobo da Corte clamou:
– Vossa majestade poupe a minha cabeça! Sois rei, sois rei, sois rei!
Diante daquela reverência, o novo rei reconsiderou a ordem ao chefe da guarda:
– Chefe da guarda, o Bobo da Corte entendeu a minha mensagem. Por isso, não o mate agora. Coloque-o como centésimo da lista.
Esta narrativa alegórica para inculcar uma verdade, também se apresenta com uma proposta explícita: todo o rei – com ou sem coroa na cabeça –, quando assume o poder, é impelido por uma extraordinária vontade de mostrar força perante os seus “súditos” e espera deles o devido respeito como resposta; nem que seja por medo implícito. Aquela coisa de “Manda quem pode e obedece quem tem juízo”.
Esquece o rei, de repente, que o respeito se conquista com tratamento recíproco e, sobretudo, competência. Como súdito, espero que os nossos novos governantes, eleitos neste próximo mês de outubro, sejam dotados de relativo preparo, tenham o equilíbrio necessário para governar nas adversidades, saibam corresponder à confiança depositada pelo frágil reino e, afastando o Brutus do palácio, não permitam jamais que o Bobo da Corte se intrometa nas decisões mais importantes do clero, sob pena do seu mandatário ser confundido com ele.
Augusto Avlis
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Pingback: Livro Polítitica « Opinião sem Fronteiras - 29/07/2012