Covid-19
Primeira parte
“Eis que dos Céus descerá a escuridão. Da semeadura da morte haverá colheita de corpos, que serão lançados nas fornalhas. Espíritos vagarão; os sobreviventes praguejarão. A fé desaparecerá no momento de a salvação ser impossível. Sedentos por água os homens beberão sangue; na dor da fome comerão carniça, e quando esta faltar devorar-se-ão entre si. Quando os Céus se abrirem não restará mais vida sobre a Terra, tampouco pedra sobre pedra, mais nada!”.
Augusto Avlis
As horas não passam, os dias parecem mais longos, as noites terríveis – a insônia corrói o cérebro bem devagar. O isolamento social imposto provoca consequências diversas, a partir dos seus motivos, da forma como ele se dá e sob que condições. Na última ceia de Natal, ou na virada do ano 19/20, ninguém imaginava que decorridos sessenta dias estaria passando por tudo isso. O novo Coronavírus paralisou o mundo; um inimigo invisível contra o qual não há combate eficaz, por enquanto até agora. Fazer o quê? Se diante da impotência geral não há salvadores ou salvados, heróis ou vilões. Cada um de nós pode ser uma vítima potencial do vírus. A coisa aconteceu rápido demais, pegou todo mundo de surpresa, está fora do controle e está sendo avassaladora – considerando o desconhecido, não existem fronteiras de defesa por mais que se procure. O Planeta mostrou que não estava preparado para o imponderável, seja no campo da biomedicina, seja na disponibilidade material, seja no tratamento psicológico, e, sobretudo, no aspecto comportamental dos indivíduos. As funções vitais dos Governos (e dos políticos) desaparecem nos exames de avaliação. Nos hospitais, onde a luta pela conservação da vida é exercício de juramento, o grito do silêncio é ensurdecedor. Deus assiste à distância.
O pânico se estabeleceu nos quatro cantos da Terra. Não se fala noutra coisa – as mentes estão exaustas da mesma sinfonia. Decorrentes do confinamento, doenças psicossomáticas surgem. As pessoas não estão acostumadas a isto. A rápida e drástica mudança no ritmo de vida confirmou uma realidade: o ócio deixa os indivíduos desorientados e à beira da loucura. O medo vem se juntar à agonia. Serei o próximo? Pergunto a mim mesmo. Fato é que o maior inimigo do homem tem sido ele próprio. O “lixo informacional” recrudesce. O bombardeio de informações ao qual a sociedade é submetida, minuto a minuto, mais tem prejudicado do que ajudado. Quando a vida voltar ao normal, ou “quase ao normal”, jamais será como antes. Esta sim é uma certeza inescapável. Estaremos todos irremediavelmente perdidos? Nascerá a servidão a novos sistemas; a indústria da morte terá novos protagonistas; a visão do futuro ficará totalmente embaçada como uma vidraça em dias de chuva.
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