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Fatos em Foco

Escravos, simplesmente escravos

Escravos, simplesmente escravos

O dia 13 de maio é simbólico. Uma data que não deveria existir. Penso que todo acontecimento provocador de dores, tormentos e suplícios jamais deveria ser lembrado e/ou comemorado. Se eu lembro tenho angústia, se comemoro não esqueço. Contudo, a humanidade oportuniza os eventos históricos no sentido de dar duas mensagens: 1ª Enaltecer os feitos positivos para que sirvam de exemplos a serem seguidos; 2ª Lembrar que determinados fatos não se repitam para a salvação e o bem de todos.

Por que, ontem, os “movimentos brancos” lembraram mais o fim da escravidão do que os “movimentos negros”? Talvez pelo fato de que os movimentos negros não comemoram a data. Ou porque existem brancos que se consideram escravos. Após o fim da escravatura no Brasil os negros sentiram na pele a dor maior da exclusão social; os ex-escravos não foram inseridos no contexto sócio-econômico como agentes participativos do processo evolutivo. Há de se considerar que o elevadíssimo índice de analfabetismo entre os negros observado à época, os aspectos culturais, sobretudo religiosos, e a falta de qualificação contribuíram para que o muro que separava as raças fosse construído mais alto. Até hoje esse muro não veio abaixo.

Quando a senhora Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon e Bragança (29/07/1846 – 14/11/1921) assinou a Lei Imperial nº 3.353 (Lei Áurea sancionada em 13 de maio de 1888), não imaginava que, ao extinguir a escravidão em todo o território brasileiro, estava criando uma nova vertente do escravismo.

As relações humanas desandaram por essas terras tupiniquins e as trabalhistas mais ainda. A princesa Isabel (que recebeu o apelido de “A Redentora”), filha do imperador D. Pedro II, sem dúvida alguma assumiu o papel de “salvadora” ao retirar os chicotes das mãos dos algozes e estancar o sangue das costas dos escravos. Que descanse em paz!

Porém, Isabel do Brasil não teve culpa se o tráfico escravista permaneceu vivo até os dias atuais. Nesse verdadeiro “comércio humano” foram incluídas milhares de crianças, centenas de estrangeiros ilegais, trabalhadores rurais e de metrópoles, obrigados a se submeterem a toda sorte de trabalho escravo. O sofrimento físico e psicológico, as crueldades e as desgraças anunciadas, nada disso comove as autoridades brasileiras, tanto que, em pleno século XXI ainda vemos lágrimas rolando nos rostos esquálidos, ainda vemos o sangue brotando das mãos frágeis, ainda ouvimos o ronco dos estômagos vazios. O infortúnio não nos incomoda até que venha bater na nossa porta.

Passados 130 anos da assinatura da Lei Áurea o que aconteceu: as desigualdades sociais, raciais e de gênero aumentaram consideravelmente. Há pouco tempo surgiu uma nova forma de desigualdade, a “desigualdade estética”, de modo que a beleza põe mesa e a feiura combatida na guerra de imagens travada nas redes sociais. Quem disse que beleza e formosura não dão pão nem fartura? Se viva fosse hoje, a princesa Isabel certamente teria muito trabalho para assinar Leis de igual magnitude.

O mundo está passando por profundas transformações enquanto determinados países pararam na era medieval. Não saberia dizer o que é mais cruel, se a escravidão nos moldes medievais ou se a escravidão branca imposta pelo dinheiro. Segundo matéria de Helton Simões Gomes (G1, 22/01/2018) “Cerca de 07 milhões de pessoas, que compõem o grupo do 1% mais rico do mundo, ficaram com 82% de toda riqueza global gerada em 2017, aponta um estudo divulgado nesta segunda-feira (22) pela organização não-governamental britânica Oxfam antes do Fórum Econômico Mundial, que ocorre em Davos, na Suíça. Cinco bilionários brasileiros concentram mesma riqueza que metade mais pobre do país, diz estudo. A metade mais pobre da população mundial, por outro lado, não obteve nada do que foi gerado no ano passado. Esse grupo reúne 3,7 bilhões de pessoas, mostra o relatório Recompensem o trabalho, não a riqueza”.

A escravidão continua geometricamente ampliada – com outros matizes. Quando esses “caras mais ricos do mundo” descobrirem que dinheiro não se come… Deixo a imaginação falar por si. O dia 13 de maio é simbólico. Uma data que não deveria existir. Penso que todo acontecimento provocador de dores, tormentos e suplícios jamais deveria ser lembrado e/ou comemorado. Se eu lembro tenho angústia, se comemoro não esqueço. Foi ontem, já passou!

Augusto Avlis

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Sobre augustoavlis

Augusto Avlis nasceu no Rio de Janeiro na metade do século XX. Essa capital foi antes o Distrito Federal e o Estado da Guanabara. Profissionalizou-se em Marketing Operacional e fez parte, como Executivo, de multinacionais do segmento alimentício por mais de três décadas, além de Consultor de empresas. Formado em Comunicação Social, habilitou-se em Jornalismo. Ocupou cargo público como Secretário de Comunicação. Hoje dedica-se às atividades de escritor e cronista.

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