Voto obrigatório, sim ou não?
Um jornal de grande circulação, no espaço “Fórum do leitor”, fez a seguinte pergunta: Você acha que uma reforma política deve pôr fim ao voto obrigatório?
Minha resposta: A priori, uma reforma política, feita só por políticos, jamais passará de um arremedo. Partindo desse pressuposto, não acredito que o voto se torne facultativo, até porque os feudos políticos, encastelados no poder, continuam apostando na ignorância de uma boa parcela dos eleitores. Mantendo-se a obrigatoriedade do voto (imposta por lei) preserva-se a massa de manobra, vital ao método de dominação; ainda que obrigatória seja a presença do eleitor na seção eleitoral para o cumprimento de formalidades legais, podendo fazer do seu voto o que bem entender, até mesmo anulá-lo.
A propósito, o que o Brasil precisa é de uma reforma de consciências. A capacidade que os políticos têm de julgar a moralidade das próprias ações é cada vez mais questionável. Por conveniência, a nossa estrutura política é extremamente complexa – o sistema deixa de estabelecer conexão com o povo –, o que diretamente favorece a prática da corrupção generalizada e programática. Muitos dos candidatos que ontem elegemos agora dizem categoricamente que “o dinheiro público não tem dono”, e dele se locupletam.
O processo democrático está na fase embrionária. Uma reforma política, na amplitude que se deseja – em consonância com a Legislação Eleitoral, que também é passível de reforma –, pode se tornar o alvorecer de uma nova democracia. Aí sim, os políticos que quiserem entrar na disputa pelos votos válidos, certamente pensarão duas vezes, antes de olhar na cara dos eleitores como se eles fossem uma manada de bois encabrestados.
Nota de rodapé: Este meu texto-resposta tem data de terça-feira, 25 de julho de 2006. Passados quase 12 anos, impressionante como ele é tão atual.
Augusto Avlis
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