O bicho está solto! – 2ª parte
Em decorrência da violência que tomou conta do Espírito Santo nesses últimos sete dias, acho que o meu próximo final de semana não será tão bom quanto foi o anterior, porque a paz pública longe está de ser retomada pelas autoridades locais. De uma coisa eu tenho certeza, praticarei naturismo indoor, ou seja, dentro do meu apartamento – os meus amigos naturistas serão bem vindos –, ainda que, de vez em quando, sons de tiros são ouvidos bem perto daqui, além de gritos desesperados. A prisão domiciliar não é tão ruim assim, desde que a sua despensa esteja devidamente abastecida com artigos de primeira, segunda, terceira, quarta e demais necessidades básicas, primárias e secundárias. Infelizmente, a população breve ficará à base de pão e água. Já combinei com os meus bons vizinhos do prédio no sentido de todos nós praticarmos o escambo quando necessário – penso em trocar um rolo de papel higiênico por um pouco de sal. A boneca inflável ficou de fora da lista de produtos permutáveis.
Bom humor à parte, nós estamos vivendo tempos difíceis, uma situação de anormalidade no Estado, uma profunda anomalia. Olha que eu resido em Vila Velha desde 2003, antes disso como turista assíduo há 48 anos (de 1969 pra cá) e posso afirmar a vocês que jamais assisti algo do tipo, mesmo no período da ditadura militar. Às vezes fico pensando que os brasileiros não estavam (como ainda não estão) preparados para a “Democracia”, defendida na sua plenitude conforme a história conta. Os militares entregaram o poder aos civis e posicionaram-se à distância para verem o que aconteceria com o país a partir disso. Os milicos sobreviventes daquela época devem estar envergonhados com o cenário de trevas; os que morreram foram enterrados pobres, sem processos de corrupção nas costas. Nas décadas de 70 e 80 eu saía dos bancos contando dinheiro vivo nas ruas e nada me acontecia. As empresas, nas quais eu trabalhei à época, pagavam os seus funcionários em espécie, dinheiro colocado em envelopes, que eram colocados nos bolsos das camisas ou das calças. Raríssimas as notícias de roubos dentro de ônibus ou trens. As Forças Armadas e as Polícias eram respeitadas e reverenciadas.
Hoje a baderna é total, ninguém se entende, o poder público tropeça nas próprias pernas, não consegue sair do lugar onde está por incompetência e não toma atitude quando mais deveria. Os criminosos sentem a fragilidade do Estado, agem livremente e perpetuam as suas ações. Estou vendo as Instituições agonizando e não vejo salvação. O momento é crítico e requer uma tomada de posição severa, o emprego de forças, o desencadeamento de operações de choque, caso contrário, algo de muito pior está por acontecer. A população enfurecida pode a qualquer momento invadir os quartéis da Polícia Militar, pode massacrar as desqualificadas e irresponsáveis pessoas que estão acampadas nos portões das organizações militares, pode fazer justiça com as próprias mãos, esquartejar os bandidos mortos e expor os seus pedaços nas principais praças das cidades, sobretudo à frente dos prédios de governo e dos quartéis. Sinto dizer que vai morrer muita gente, inocente ou não, dos dois lados. Não dá, não dá mais para esperar de mãos pro alto.
Não se trata de questão de excepcionalidade, a vitimada população não suporta mais tanta omissão e passividade por parte do governo. A sensação de insegurança, que já era presente na sociedade antes dessa brutal crise, agora está sobremaneira agravada e permanecerá assim por muito tempo. A “Secretaria de Insegurança” do Estado, roendo as unhas, transfere para as Forças Armadas e para a Força Nacional a missão de resolver o problema que é dela. Jogos de palavras, simplesmente isso. Militares federais, em seus belos carros padronizados, andando de um lado pro outro sem poder de polícia ostensiva, não resolverão o problema com a simples “marcação de presença” em territórios desconhecidos e sem conhecer com quem estão lutando. Passou da hora dos canhões irem pras ruas, das cidades do Espírito Santo, do Rio de Janeiro e do restante do país. O bicho está pegando!
Augusto Avlis
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