Televisão – parte I
Amigos leitores, eu não pretendo contar aqui neste espaço democrático a história detalhada do aparelho de televisão (com os canais dentro); qual maluco o inventou não por acaso; quando realmente foi produzido (industrializado em série) e comercializado pela primeira vez nas lojas especializadas; seus detalhes técnicos; a sua evolução ou involução ao longo dos tempos; enfim, coisas de ambos os gêneros humanos. Seria sacal e perderia a audiência, que procuro mantê-la em níveis elevados, segundo exigência de valorização de mercado.
De todo modo, senti-me na obrigação de escrever alguma coisa sobre esse maldito e bem amado aparelho eletrodoméstico, ater-me simplesmente ao subliminar da mensagem implícita, descartar o material quando inconveniente, navegar nas brancas nuvens da transmissão.
O que eu coloco em evidência são particularidades, os seus efeitos na formação das pessoas, a sua influência no comportamento cotidiano, a “deformação mental” das massas que se mantêm despreparadas. A nossa “sociedade global”, estatisticamente formada pelas camadas sócio-econômicas informais, está irremediavelmente doente – além da normal síndrome do pânico, sofre de abstinência cultural e plural. Que legal! Vejo imagens sem escutá-las, mas falo sem compreender o conteúdo.
Malucos que se apresentam e aparentam sãos, e os que se dizem totalmente sãos cometem loucuras inexplicáveis. É a modernidade das comunicações sociais – gigantesco ímã que nos atrai para o poço da imbecilidade. Uma sociedade de robôs, de carne e ossos, sendo que o controle remoto não está em nossas mãos (!) – e tem hora que queremos jogá-lo dentro da panela de sopa, ou na privada da empregada; só não o fazemos porque tem um imbecil pregado no sofá da sala comendo salaminho, que ameaça chamar a polícia metropolitana.
Vivemos uma era onde tudo é permissivo, premeditadamente imposto pelo sistema – o que consumir de inservível, arrotar sem degustar –, que habilmente manipula a “informação correta” para aquela classe de público que procura um espaço na sala em determinados intervalos de tempo que o dia oferece – os afazeres são abandonados porque as novelas nos chamam. Tá!
Entorpecimento dos sentidos. Mediocridade comunicacional. Big Brother (passagens explícitas e textuais). O imperativo afirmativo, na sua conjugação temporal, tem moldado personalidades e colocado nas trevas (escuridão demoníaca) o sentido da percepção (perceptivo). Informação, desinformação, entretenimento, cultura vazia. Não é que o modelo tenha mudado, é que o nível de exigência do telespectador passou a ser questionável do ponto de vista das suas escolhas. O que me satisfaz não necessariamente agrada aos outros indivíduos. Verifica-se a diminuição continuada do nível de exigência – não fuja em água profunda; todos nós estamos dentro da mesma vala comum onde não há barco. Vivemos freneticamente o futuro e esquecemos o passado – o presente não existe.
O fenômeno da mini-televisão portátil (imóvel) que se transformou o bem fazejo celular de várias gerações (que também recebe e faz ligações). O que é informação de qualidade? O que é conteúdo programático? O que recebemos de informação é suficiente para formar juízo de valor? O que é verdade e o que é mentira? Choro porque o humor perdeu a graça – cedeu lugar aos macabrismos. E não me venham falar em heranças do período ditatorial. Censura? Hein? Comunicação de massa na sociedade contemporânea buscando novas fórmulas para não perder importância, sentido, objetivo e poder. Ah! Televisão, eu sou seu ente de desejo, quem você quer conquistar; enxergue-me se for capaz.
Augusto Avlis
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