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Política

Carta de Michel Temer

1Encaminhada com carimbo “Confidencial” a carta de Michel Temer foi recebida pela presidente Dilma Rousseff às 17h20min da segunda-feira, 07/12/2015, data da sua emissão. O documento já está posto nos anais da política brasileira. Registra-se a história. O “educado” texto foi a forma encontrada pelo vice Michel Temer para ratificar a sua ruptura com o governo petista sem ter que olhar diretamente nos olhos malignos da presidente; palavras escritas ferem mais do que punhais afiados. Uma relação já desgastada ao longo de quase 05 anos. Não há volta, sob pena de saborear café requentado; o mesmo gosto sentido por um casal separado que tenta a reconciliação. A meu sentir, o Vice-Presidente da República, Michel Temer, aguentou demais, suportou tanta incompetência por muito tempo. O PMDB sempre esteve nos governos, deles participando direta ou indiretamente. Estar junto do poder foi estratégia pensada. Agora que o barco está afundando, em decorrência do casco avariado, a ordem do dia é pular n’água com colete salva-vidas, no primeiro grito “Salve-se quem puder”. Mas, antes, a comandante Dilma será amarrada no convés para que afunde junto. Leia abaixo a íntegra da missiva oficial.

São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.

Senhora Presidente,

“Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem).

Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio.

Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.

Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.

Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais são as funções do Vice. À minha natural discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.

Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.

Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à Vice.

Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em mim, gera desconfiança e menosprezo do governo.

Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.

  1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas.

Sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.

  1. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários.
  1. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.
  1. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas “desfeitas”, culminando com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta “conspiração”.
  1. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60 reuniões de líderes e bancadas ao longo do tempo solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.
  1. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.
  1. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 08 (oito) votos do DEM, 06 (seis) do PSB e 03 (três) do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.
  1. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o Vice Presidente Joe Biden – com quem construí boa amizade – sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio da “espionagem” americana, quando as conversas começaram a ser retomadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça, para conversar com o Vice Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança;
  1. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o teor da conversa.
  1. Até o programa “Uma Ponte para o Futuro”, aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal.
  1. PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. A senhora sabe que, como Presidente do PMDB, devo manter cauteloso silêncio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a unidade partidária. Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais.

Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.

Respeitosamente,

Michel Temer

A Sua Excelência a Senhora

Doutora DILMA ROUSSEFF

Presidente da República do Brasil

Palácio do Planalto

______

Em primeiro lugar, convém destacar que na política não existe, como nunca existiu, confiança no trato comum, ou, na melhor das hipóteses, “confiar desconfiando sempre”, e, em segundo lugar, o canibalismo é praticado pelos políticos à luz do dia, seja na presença de quem for. Não vamos aqui achar que canibalismo é tão somente um tipo de relação ecológica na qual determinadas espécies de animais irracionais se alimentam de indivíduos da mesma espécie – os seus iguais são comidos pelos seus iguais num ritual fratricida. Isso não se trata de hermafroditismo. Alguns acreditam que o canibalismo contribui para a evolução da espécie, uma vez que os mais fracos e menos aptos são eliminados, ainda que de terrível maneira. Na política ocorre a mesma coisa, de modo que políticos provenientes de partidos defeituosos ou imaturos são exterminados sem dó e piedade pelos seus “diferentes” irmãos. Incluem-se nessa decretada sentença de morte – ter o corpo devorado em vida – os políticos que não se contentam com o tamanho da fatia do bolo da corrupção, os políticos que se rebelam contra práticas delituosas, os políticos que escondem o rabo e condenam os seus iguais.

Ainda com os dentes sujos de sangue, Michel Temer se reuniu com a presidente Dilma Rousseff por cerca de uma hora no Palácio do Planalto na noite da última quarta-feira, 09 de dezembro de 2015. O encontro entre Dilma e Temer foi marcado mais uma vez por mentiras descaradas, ambos juraram de pés juntos e mãos separadas que manterão daqui pra frente uma relação meramente institucional para o bem da governabilidade e do país, pacto ratificado em nota oficial – concordaram que nas aparições públicas não tocariam no assunto do Impeachment e, sobretudo, pessoalmente, ou seja, entre os dois, cara a cara. Isso se eles vierem a se encontrar novamente. É óbvio que o tema da “Carta de Michel Temer”, cujo conteúdo foi vazado por agentes do FBI (Fofoqueiros Brasileiros Infiltrados) causando mal-estar na sede do governo e grande repercussão política por todo o Brasil, teve prioridade na pauta daquela reunião a dois, sem luz de vela de aniversário. Outra mentira deslavada: “Michel Temer teria dito que não fará declaração pública de apoio ao governo, mas se comprometeu também a não trabalhar a favor do afastamento da petista do Palácio do Planalto”.

“Combinamos, eu e a presidenta, que teremos uma relação pessoal institucional e a mais fértil possível”.

Michel Temer

“Na nossa conversa, eu e o Vice-Presidente Michel Temer decidimos que teremos uma relação extremamente profícua, tanto pessoal quanto institucionalmente, sempre considerando os maiores interesses do país”.

Dilma Rousseff

O João da Silva, depois da terceira dose da boa cachaça disse: “Se eu fosse o Michel Temer não escreveria tanto para uma pessoa arrogante, apenas mandaria a filha da puta tomar na bunda e pediria o meu boné”.

Augusto Avlis

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Sobre augustoavlis

Augusto Avlis nasceu no Rio de Janeiro na metade do século XX. Essa capital foi antes o Distrito Federal e o Estado da Guanabara. Profissionalizou-se em Marketing Operacional e fez parte, como Executivo, de multinacionais do segmento alimentício por mais de três décadas, além de Consultor de empresas. Formado em Comunicação Social, habilitou-se em Jornalismo. Ocupou cargo público como Secretário de Comunicação. Hoje dedica-se às atividades de escritor e cronista.

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