Liberdade, o que é isso?
Minha mãe gostava de passarinhos; só que presos em suas gaiolas! Se bem me recordo, ela chegou a ter umas vinte, de vários tamanhos – algumas adornadas. Em cada gaiola a minha mãe mantinha um pássaro solitário, ou, no máximo um casal de mesma raça. Juntas espécies diferentes dava confusão no poleiro. Ao todo minha mãe chegou a ter 50 pequenas aves de uma só vez; uma coleção de prisioneiros de dar inveja à Delegacia do bairro. Quando se está preso, ainda que seja fornecida comida e colocada água quase limpa no reservatório, as asas passam a ser inúteis. Voar pra onde? Calopsitas, Canários, Papagaios, Periquitos, Agapornis, Cacatuas, Coleiros, Azulão, Bico-de-lacre, Cardeal, Araras, Curiós, Pintassilgos, Trinca-Ferro, entre outros, já sentiram essa sensação de “impotência” sob a guarda impiedosa da minha mãe.
Nunca vi uma cria nascer, muito pelo contrário, de vez em quando aparecia um passarinho morto no fundo da gaiola com as duas perninhas para o alto, totalmente imóvel – às vezes nem o sexo dele era identificado. Também não dava tempo pra juntar formiga porque era imediatamente providenciado funeral do pássaro (enrolado num pedaço de papel higiênico marca Tullet) em um canto qualquer do nosso quintal, com direito a um breve choro da velha. No dia seguinte já havia outro pássaro ocupando a mesma gaiola que ficara vazia por pouco tempo. Minha mãe tinha uma facilidade danada para repor as aves mortas. Acho que tinha dedo do meu tio Belmiro, que gostava de rinhas de passarinhos. De vez em quando ele presenteava minha mãe com alguns pássaros feridos, arrebentados nas rinhas, com poucas chances de sobrevivência. Chego a pensar que os humanos parecem com as aves, a depender das circunstâncias que se encontram, ainda que fornecida comida e colocada água quase limpa no reservatório – e sem direito a papel higiênico.
Augusto Avlis
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